Nos últimos anos os aquários de biótopo foram-se tornando cada vez mais populares. Muitos apaixonados por peixes, plantas aquáticas e invertebrados exóticos estão a criar nas suas casas pequenos ecossistemas dessas espécies, replicando com particular talento os seus habitats naturais e recriando as condições perfeitas para os manterem em cativeiro. Todavia, é frequente verificarmos que ainda existem ideias erróneas sobre o conceito entre os interessados no tema dos aquários de biótopo.

Para entender mais detalhadamente o que é um “aquário de biótopo”, sugerimos-lhe que mergulhe no mundo dos biótopos subaquáticos durante algum tempo. São poucas as pessoas que têm uma ideia da beleza que esses ambientes na realidade escondem. As câmeras submersíveis modernas permitiram-nos “refrescar” a forma como olhamos para as paisagens subaquáticas, proporcionando-nos uma perspectiva muito mais nítida daquilo que está abaixo da linha da água.

Infelizmente, todos os anos são destruídos milhares de biótopos no nosso planeta e com isso corremos um sério risco de deixarmos de poder ver no futuro muitas espécies de organismos aquáticos, não só no seu ambiente natural como também nos nossos aquários. A nossa tarefa é compilarmos o máximo de informação possível sobre os biótopos e contribuirmos para ajudar a resgatar os que se encontram ameaçados de extinção. Desde 2011 que temos vindo a realizar o Biotope Aquarium Design Contest, um concurso de aquários de biótopo que nos ajuda a chamar a atenção e informar os novos aquariófilos sobre como criar as condições para manterem os peixes nos aquários de forma correcta. Todos entre vocês nos podem ajudar, seja realizando pesquisas e fornecendo informações sobre um biótopo em concreto como participando no nosso concurso.

Biótopo, distribuição geográfica da espécie e ecossistema

Vamos agora dar uma vista de olhos à terminologia científica mais importante. Não se preocupe se não entender logo à primeira o significado de alguns destes termos, pois tudo ficará mais claro um pouco mais adiante. O processo será certamente emocionante e pedagógico.

Vamos aplicar estes termos a um exemplo, para uma melhor compreensão. A distribuição geográfica do Óscar (Astronotus ocellatus) abrange as bacias de diversos sistemas fluviais da América do Sul: o Amazonas, o Orinoco, o Oyapok, etc. Nesses sítios os óscares vivem em vários biótopos distintos, pois cada um desses biótopos possui características únicas, sendo que no entanto também todos eles têm elementos em comum. Por exemplo, são sempre lugares com muitos troncos submersos ou uma grande quantidade de vegetação na margem, em rios e ribeiros com pouca corrente.

Descrição das imagens: a distribuição geográfica da espécie pode abranger muitos sistemas aquáticos distintos e em cada um deles podem existir vários biótopos com condições ambientais e comunidades de organismos vivos diferentes. Por exemplo: 1) Um biótopo localizado num ribeiro de corrente rápida, com águas claras e oxigenadas; 2) Um biótopo confinado à área marginal de um lago, com o leito cheio de raízes e folhas de árvores, que conferem à água um pH baixo; 3) Um biótopo localizado numa zona rasa do rio, com o fundo argiloso e abundância de plantas aquáticas; 4) Um biótopo localizado numa zona arenosa e com rochas, caracterizado por uma dureza elevada.

Cada espécie, bem como as distintas populações, tem preferências quanto às condições do habitat: o tipo de substrato, a intensidade luminosa, a velocidade da corrente de água, a temperatura e a composição química da água, disponibilidade de alimentos, a presença de espécies concorrentes e predadores. Todos estes factores fazem parte de um biótopo. No entanto, nunca devemos esquecer que na Natureza tudo é dinâmico, tudo muda. Um biótopo carece de limites claros. Pode mudar por causa das condições meteorológicas ou em resultado da intervenção humana. Algumas espécies de peixes migram dentro da respectiva distribuição geográfica, habitando em diferentes biótopos e interagindo com uma grande variedade de organismos. De igual modo, indivíduos de uma mesma espécie, mas de idades distintas, podem ter preferências diferentes.

É por isto que quando nos referimos a um biótopo na Natureza não devemos imaginá-lo apenas como um ponto no mapa, mas sim termos também em conta as condições ambientais dos organismos que vivem nesse lugar.

Recriar um biótopo natural no aquário

Como deve ser um aquário? Viável e confortável sob o ponto de vista dos seus habitantes, interessante e agradável de observar sob o ponto de vista humano. Esta regra é verdadeira para todos os tipos de aquários decorativos. Mas quais são as características que definem os aquários de biótopo?

Os biótopos naturais espalhados pelos vários cantos do nosso planeta são o lar de muitas espécies de peixes ornamentais. Cada biótopo tem características únicas e é povoado por organismos vivos específicos dessa área em concreto. Ao longo de milhares de anos os peixes e as plantas desses lugares foram-se adaptando a essas condições ambientais particulares.

Tal como sucede nos ecossistemas naturais, um aquário é formado pelo meio ambiente e pelos organismos vivos. O nosso objectivo é recolher o máximo de informações possível sobre um determinado biótopo natural e recriar todas as condições necessárias que se encontram na Natureza para que a vida dos peixes e das plantas no aquário seja o mais bem sucedida possível.

À primeira vista, muitos aquários até aparentam comprir os critérios para serem considerados aquários de biótopo, mas na realidade isso apenas sucede em parte. Vejamos alguns exemplos:

1. Num aquário geográfico* os organismos aquáticos são seleccionados por pertencerem a uma zona em concreto, não estando vinculados a um determinado biótopo nem condições ambientais particulares. Um exemplo seria um aquário para peixes grandes da área da bacia do Amazonas ou um aquário para ciclídeos do lago Tanganica.
2. Num aquário ecológico* os organismos aquáticos são seleccionados com base na semelhança das suas condições ambientais, sem estarem vinculados a uma área ou biótopo em concreto. Por exemplo, um aquário para peixes com predilecção por águas frias e corrente forte, ou um aquário de dureza elevada para peixes que precisam de uma multitude de esconderijos entre as rochas.
3. Num aquário específico* são recriadas as condições exactas para manter uma única espécie de peixes em particular, sem que exista uma vinculação a uma determinada zona ou biótopo. Um exemplo disto seria um aquário de “águas negras”, com uma grande quantidade de ramos e folhas sobre o solo, para ciclídeos como o Apistogramma agassizii.

*Estas designações carecem de aceitação geral e poderão ser sujeitas a modificações no futuro.

Critérios de avaliação dos aquários de biótopo

Um aquário é um ecossistema artificial, formado pelo biótopo (ambiente) e pela sua biocenose (organismos vivos). A sua selecção, combinação e correspondência com o biótopo natural que visa replicar são avaliadas com base nos seguintes critérios:

1. Correspondência de ambiente: os elementos paisagísticos e o substrato que forem seleccionados devem ter o mesmo aspecto dos existentes no biótopo que está ser replicado.
2. Correspondência de seres vivos: as espécies de peixes, plantas e invertebrados devem ser as mesmas do biótopo especificado. Podem ser provenientes de capturas no ambiente selvagem ou criados em cativeiro, mas só se aceitam as variedades que existam na Natureza. Não são admitidas variedades com coloração diferente da natural, nem exemplares com formas e barbatanas longas ou deformadas produzidas por selecção artificial. O uso de espécies cosmopolitas e invasoras é permitido, embora a sua presença deva ser argumentada na descrição.
3. Qualidade do ambiente: as características dos elementos paisagísticos e do substrato, bem como a sua disposição, devem corresponder às necessidades vitais dos habitantes. Por exemplo, não haver suficientes folhas em decomposição ou algas para as espécies que as requeiram, refúgios para os ciclídeos, etc.
4. Qualidade dos seres vivos: os peixes, as plantas e os invertebrados devem gozar de uma excelente saúde. O seu número e o correcto equilíbrio entre as espécies devem ser os ideais para a sua convivência no aquário. A presença de espécies com fins alimentícios é permitida, mas a sua inclusão deve ser mencionada na descrição e corresponder ao biótopo.
5. Disposição dos elementos ambientais: os elementos paisagísticos e os substratos devem estar dispostos de forma a replicarem o relevo natural, criando o efeito visual de se estar a presenciar um biótopo subaquático. O aspecto deve ser harmonioso do ponto de vista natural e estético.
6. Distribuição dos seres vivos: os peixes devem comportar-se com naturalidade e ocupar os nichos fornecidos. As plantas devem estar dispostas e desenvolverem-se da mesma forma que sucede na natureza.

Se quiser apresentar um trabalho seu ao Biotope Aquarium Design Contest, deve escrever o nome e a descrição do biótopo correctamente. A qualidade das fotos que fornecer também é um factor importante. Recomenda-se que se escondam os equipamentos e que se limpem os vidros do aquário. Todas as espécies detalhadas na descrição devem estar visíveis na foto principal. O cumprimento destes aspectos irá ajudá-lo a alcançar um bom resultado.

Os conceitos explicados neste artigo serão analisados anualmente e corrigidos, caso tal seja necessário. Estamos abertos a colaborações e a incorporar na nossa equipa todas as pessoas interessadas em ajudar a desenvolver os aquários de biótopo. Se tiver alguma ideia, não hesite em nos escrever para o nosso e-mail: contact@biotope-aquarium.info